segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Imposto do Medo.

Cardume de piranhas, a quem cerca?
Dentes cravados na praça do povo.
Som de apitos sirenes caladas -
Plínio mais Caio, Raquel e João Paulo.

Caíram em oficina de tapas,
mas desenham um coração no peito.
Praça do povo - há vida que pulsa.
Debaixo de seus braços um troféu.

Lar de mendigos que esperam São Paulo,
exposto ao projeto autoritário
na vala que ali corre à céu aberto
sem verde dessa flâmula azul mar.

Imposto do Medo.

Cardume de piranhas, a quem cerca?
Dentes cravados na praça do povo.
Som de apitos sirenes caladas -
Plínio mais Caio, Raquel e João Paulo.

Caíram em oficina de tapas,
mas desenham um coração no peito.
Praça do povo - há vida que pulsa.
Debaixo de seus braços um troféu.

Lar de mendigos que esperam São Paulo,
exposto ao dejeto autoritário
na vala que ali corre à céu aberto
sem verde dessa flâmula sem o azul mar.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Patrimônio Cultural Imaterial - propostas caiçaras

Patrimônio Cultural Imaterial Caiçara – Celebração, Memória e Manifestação.
O Caiçara defende, em prosa na volta da pescaria e em sarau, com seu dizer em aforismo e versado - livre, em soneto e chorinho, o seu Patrimônio Cultural Imaterial Caiçara, e Material - paisagístico, tradicional e moderno - citadino.
Ricardo Rutigliano Roque.
Índice:
0) Patrimônio Cultural Imaterial - Saber Sanitário, convida à transcender o Paisagismo - Patrimônio Cultural Material, em prosa;
1) Memória Portuária da Migração em Santos:
a) tombamento de livro,
b) canções, versos, aforismos e imagens;
2) Celebração da Cultura Caiçara - conversa na volta da pescaria, em dizeres versados;
3) Celebração do Homem Moderno Caiçara - Citadino, ao versar - livre e em soneto, e ao cantar - chorinho, com letra em partitura e sobre foto, com o mote da brisa marinha e a luz natural, também, para defesa de seu Patrimônio Cultural Material - Paisagístico;
4) Manifestação do Homem Moderno Caiçara - Citadino, em dizer cantado. - “Madrigal Ars Viva”. (*)


* Créditos:
. parceria no primeiro Soneto - coletivo da oficina "Patrimônio Cultural Imaterial";
. parceria musical: referência em obra linkada e em partitura fotografada;
. parceria em arte sobre fotografia - Paulo Pascoal Gilio;
. autorais individuais: demais obras.
.


0) Patrimônio Cultural Imaterial - Saber Sanitário, convida à transcender o Paisagismo - Patrimônio Cultural Material, em prosa:
. Mitômano do Progresso derruba Saturnino de Brito.
- Bizarro ver rato esguichado, bueiro da calçada afora, força da maré - compressão, Bio, em canais se cobertos – vulcão. (*)
- Ausente, estacionar tão impróprio, agora, esse querer bem público, Tatao, ao cimentar belos canais com nariz de Pinóquio.
- Num presente destombamento, percebe ideia, à cavaleiro, identidade de meeiro, tornar santista amedrontado.
- Pra urbana imobilidade, com ausente faixa de rolamento, na nossa avenida da praia, ali com estacionamento.
- Abrir mão da dignidade, queriam meter sem brilho, no meio dos jardins da praia, falo em forma de monotrilho.
- Agora querem cloacão, pra que clandestina ligação continue a desaguar e, assim, fique perpetuado.
- Onde ninguém possa ver nada, dos belos canais de Saturnino de Brito, se cobertos sem ética trarão feiura encastelada.
- Ao destombar bens coletivos, pra singelo uso infantil -bicicleta e escorrega, em meio à fumaça vil.
- Querer mal disfarçada quebra, da estação sorocabana, pra beneficiar quem mais brinca - aquele mais bacana.
- O vereador proponente, com tal proposta é semente, de jogo com carta marcada, com a palavra eleitoralmente. (**)
- Complexo de Betty Boop faz, acontecer o nada, próstata-cimento, cobre os seus canais, Santos.
- Sêmen - asfalto alargado, para lá correrem espermatozoides - automóveis impacientes, e uretra - ligações clandestinas.
- Quem come, como você - lebiste peixinho, larvas de mosquitos?
- O vereador está, ao desfazer anatomia – destombar os canais, destruindo a referência da nossa Santos.
- Mitômano da forma, afunda o conteúdo. Comprou, Bio, o peixe?
- Tentei comprar, Tatao, quando disse à lojista: seu pai apontou-me, aqui, um peixinho como sendo o mais voraz, frente a um banquete de larvas do mosquito e agora, com essa nova arrumação da loja, todos se parecem. Espera um pouco. Sou levado a pensar que seja este aqui. Sozinho em seu aquário. Por tê-lo descrito, em seu comportamento, territorial, solitário.
O casal pensava estar ouvindo um relato de aparição mediúnica – tamanho o arregalar de seus olhos, batimento de coração e transpirar de mãos.
- Quando esteve aqui? Pois quem você descreve é cópia de meu pai, falecido há 1 ano! Já este aqui, genro dele, poderá informar do preciso.
- É preventivo da epidemia do Dengue, esse betta em águas paradas, na casa de cada um.
- Essas bolhas de ar dele e seus lucros iriam subir, não? Mas, o custo benefício – da cidade e aquaristas, seria positivo!
Pareceu pequena, à Tatao, aquela manhã – rápida em seu transcorrer, em contraste com o tema abordado – grande em situações e ausência.


*-** Cordel em homenagem à Zéllus Machado.


(Desnudo Mar Selvagem - livro inédito, de Ricardo Rutigliano Roque).


1) Memória Portuária da Migração em Santos, com:
a) tombamento de livro, aqui proposto:
"Navios Iluminados" de Ranulpho Prata.
b) canções, versos, aforismos e imagens:



. Chatice sem Você.


Magnânima é a arte
quando ilumina nossa parte...


Você encontra seu limite e
se coloca pra brincar bem,
onde déspota se mantém
com domínio ferrenho, só
joguete, da necessidade
que mais pertence ao ser humano


...que acolhe mais que exclui
num abraço que assim imbui...


Treinada com crianças grandes
com generosa poesia
no encontro de gente que chia
impõe sua experiência sábia
e repete o laboratório
da realidade que melhora


Beijos em toda nossa face
com estalos onde enlace.


Com estalos onde enlace,
beijos em toda nossa face.
Ricardo Rutigliano Roque (musicada por Rogério Baraquet - https://soundcloud.com/user109475440ricardoroque/chatice-sem-voce /)
. Humanismo em soneto.


Aconchego do lar estremecido,
óbvio apego - mar naufragado,
desemboca em oceano amado -
ausência de outrém daí saído.


Humanismo é um legado que
enfrenta uma forma imanente
de mundo com ausente afeto, mente,
retorna combalido mais que o que.


Nu horizonte infinito da
incompreensão do passado longínquo,
que o presente teima em apagar.


Creio, você futuro fogo-fátuo,
trará preço imenso à pagar,
por não fazer do presente morada.


. Aforismo
. Humanismo - patrimônio imaterial evocado, em crise de refugiados - ao se dar costas a um acervo cultural idealizado:
.. migração feminina - refugiada do lar opressor, enfrenta com feminismo imanente, ao migrar rumo ao mundo - machismo dominante.
.. migração masculina - refugiado do mundo neurotizado, pela competitividade "meritocrática" - cortina de fumaça corsária no saque à humanidade local, ao migrar rumo ao lar - acolhedor até então.



. Presente-Ausente.


Torço por sua existência,
ativa amorização,
encontro-a natureza.


Evocada noite escura.


Paladar que amo,
transcende o querer,
audição do sonho.


Que amanheça clara.


Enxergo-a água –
fruído sentir,
presente-ausente.


Longe de entardecida.
Aromatizada,
traduzida em verbo –
sentimento vai.


Guardada no infinito.


Além do relicário –
está pulsante lá,
pisando a areia.


Torço por sua existência,
Guardada no infinito.


Ricardo Rutigliano Roque (musicada por Rogério Baraquet - https://soundcloud.com/user109475440ricardoroque/presente-ausente-1 / ).


2) Celebração da Cultura Caiçara - conversa na volta da pescaria, em dizeres versados:
. Gratidão no Sarau - Dizer Caiçara.


Vivas, à rede! Tecida pescadora,
caiçara fisgadora é que doura
peixes no encontro forte e diverso
grande pra não celebrar abrasão
selvagem mar, em ondas, é mais são.


Reclusa coerência manifesta
feita luz de vela, libertas esta,
vistas vossa roupa lavada à mão
ávida quarada em cotidianos
varais ao vento mais que mundanos,
que na terra em varapaus cravamos.


Compareço, assim vestido ao sarau
como sal, nado mal, mas se areais
palavras em semelhança mamais
satisfeito engasgado abraçais,
isso digo, não sei que mal há, aos tais.


3) Celebração do Homem Moderno Caiçara - Citadino, em Sarau na defesa do também seu Patrimônio Cultural Material - Paisagístico, ao:
a) versar - livre e soneto, e
b) cantar - chorinho:


a)
. À Rua, um Poeta.


vê com azul dos olhos
a rapina em amarelo bico -
preto Tucano


É visto, aos olhos de terceiros,
como aquele que não faz nada -
quando escreve, pois aparenta
um inerte fisicamente
mas naquele momento pulsa,
se sua alma faz frente à
demanda reprimida – essa,
de até instantes atrás, e
caminha ao lado de quem só
acredita em seu bico em
pena que o açoita, nos seus
versos chicote, que vem no
estalo de poema dito.


Seus ouvidos, agora ouvem...


A poesia à rua é nua -
escritor vendendo obra,
contexto que livro fomenta,
com busca ativa de leitores...
esse estou eu no que é mantido,
sarau tradicional - estático,
pro corpo, mas com benefício
inovado organismo seu
nesse caminhar e remar,
que oxigena a alma, inspira
mais que transpira, com o Sol
poente ao fundo, em seu cenário -
audível chorinho no aquário.


em sua vermelha guelra
a sobra da isca viva -
anzol em Carpa

. Passado Apaixonado.


Eu nem lembrava que em meu passado
tinha uma benzedeira, que benzia
o estivador que cercava e nutria
a puta de vestido decotado.


Um samba, na X-9, bem marcado.
Pescador com a tarrafa trazia,
em meio às caixas de frutas vendia,
fieira de peixe lá no mercado.


Pensão com janela entreaberta,
ela chorona com lenço molhado,
vida seca, mas tão apaixonada.


Menino via peito desnudado -
imbuída menina debruçada,
já tinha a conquista como certa.


Aviltada aproximação passada,
firma pé em desfile nesse chão -
filma o desalinho protagonista.


Traga-me de lá o sabor do pão -
com sonoro recheio, entrevista
na simplicidade tão bem amada.




. "Sucesso".


Abdicar de pensamentos não cunhados
e sublimar pesadelos tão pesados.


Manto inglório desnaturado
ao nascer de sol coberto em falos
de edifícios em seu gozo inorgástico
com sobe e desce em elevadores.


Desandar caminhos mediados
descerá montanha apenas íngreme.


Escondidos raios do sol da manhã,
de pernas com gozosa disposição,
sem saudável caminhar amadurecido
por ausentada ossificação humana.


Enxergar cinza no céu escuro
ao apalpar névoa no semblante.


Quem cobra porque tem voz ativa
ao dar oralidade a sua pátria,
assim desencaminhada abraça
o que não tem preço pras crianças.


Bater em seu azul horizonte
sem perceber com seu sutil tato
um ganhar seus olhos ao focá-los.



. Uma Santos.


Areia por mar lambida
ao ver-se refletida
faz sentir você sereia
qual uma lua cheia.


A sua graça não é mera
forma da gente enxergá-la,
seduz a primavera
pro verão conquistá-la.


A Cultura perceber,
no lazer ao caminhar,
na beira de seu mar
a fisionomia ver.


Um jardim serpenteado
pra sua areia quentinha,
em verde mediado,
manter a sua linha.


Resultado imanente
o trabalho portuário
dá ganha pão libertário
ao sustentar sua gente.


Viçosa presença
em copas antes verdes -
Ipê Amarelo.

b)
. Choro na Medida.


Na travessa nua
golpeias meu sono
ao nascer da lua.
Mandas como a um cão –
num beco de rua.
Interfonas não!


Só, dentro de mim,
parece esquina.
Edifício não,
este minha sina,
pesadelo é –
vazio e de pé!


Tocas telefone
pra um zelador,
de lá não se escuta -
esta ligação:
“corra, interfona,
manda um chorão”!


Músico acordado -
com sono atrasado.
Pijama amassado
foge do assédio.
Vizinha pergunta -
vai deixar o prédio!?


Músico acordado -
com sono atrasado.
Pijama amassado
balança com tédio.
Vizinha pragueja -
vai quebrar o prédio!


Diante de mim
explode em ruína –
edifício sim,
assim me anima -
tão desmoronado,
choro mareado!


Areia sem luz
assim não alisa,
tamanho induz
aquece sem brisa.
Caiçara em prédio
não mora no tédio!


Diante de mim
e não tão acima
edifício sim
assim se sublima -
mais apequenado,
no choro ninado.


Ricardo Rutigliano Roque (musicado por Ulysses Mansur)


4) Manifestação do Homem Moderno Caiçara - Citadino, em dizer cantado. - “Madrigal Ars Viva”:


. Ars Viva.


Sou aberto por vossa onda,
ancoro lágrima, vida -
pérola oferecida,
por vós fechada até ontem.


Sentimento que sustenta malemolência -
contundente postura não recostada.
Sois mobile brilhante, ao dares contraste,
em noite escura, sois lapidado luar -
realças tenaz coluna de sua cidade.


Eu pressinto vosso chegar,
marulho dentro de mim -
reproduzes o mar da vida,
sois luz para o meu nadar.


Baseadas estás, dirigidas às nuvens,
50 anos Ars Viva - um Coliseu,
resistes dentre sustenidos e imagens,
sois colunas incólumes - princípios retos,
com seres abraçados na diversidade.


Vossa lâmina d’água traz,
grão de areia, lacrimejo,
que reflete nosso céu
no ritmo que almejo.


"Madrigal Ars Viva" - interpreta Gilberto Mendes, nos 50 anos de existência, no Teatro Coliseu - em vídeo, por Ricardo Rutigliano Roque (sem o devido crédito) -
https://m.youtube.com/watch?v=kJThpQgjNqw&feature=youtu.be


Pequeno Currículo:
Em Santos, Catando Guaru - contos, livro classificado no Facult de Santos - 2011 (inédito); Fortaleza da Barra Grande - prosa, Poesia à Rua, Caiçara em Haicai, Uma Chama Atlântica, Da Mata Atlântica ao Neruda, Diálogo Caiçara com Saturnino de Brito - 2013-4, e Fogo Amigo - poesias, 2016 (publicados / Caiçara Catadora de Capa Artesanal); Mar Selvagem - romance, classificado no Prêmio SESC de Literatura - 2015 (inédito); Desnudo Mar Selvagem, oficina e celebração Caiçaras, classificado em Literatura – Fomento à Prosa, PROAC - (1ª fase) 2016.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Humanismo em soneto.

Aconchego do lar estremecido,
óbvio apego - mar naufragado,
desemboca em oceano amado -
ausência de outrém daí saído.

Humanismo é um legado que
enfrenta uma forma imanente
de mundo com ausente afeto, mente,
retorna combalido mais que o que.

Nu horizonte infinito da
incompreensão do passado longínquo,
que o presente teima em apagar.

Creio, você futuro fogo-fátuo,
trará preço imenso à pagar,
por não fazer do presente morada.