quinta-feira, 30 de julho de 2015

Porca Fotonovela.

Porca e Inútil Fotonovela – ágora dos bichos.

Porco de coleira passeia,
nas areias da praia, nu
Gonzaguinha, defronte ao Gáudio -
aquele prédio com abrigo
anti-aéreo em seu restaurante,
anacronia com moderno –
passeio de suíno e dono,
mas sem a guia em suas patas.

casa às escuras -
em busca do par,
Inseto Cantador?

O racional irá parar
assim, está desatrelado.
Ah, vá; sinto muito, né, peixe!?
Porco invade a nossa praia.
Porco come peixe em areia -
encontro sem guia, sem rede.
Porco e peixe: vivo aroma!
Porco quebra e peixe brinca.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Percepção.

   Há prontidão - presentificação poética, em meus textos, que incomodaria o leitor? Contextualizar é, somente em textuais palavras dos personagens, um cacoete?
   Há, também ausência do narrador: sairia, este autor, da frente do leitor, compulsivamente? Apenas no texto - O Sabiá e o Garoto, há verbo no passado: Pra não dizer que não FALEI - o que remete o leitor à memória desse autor e, só assim, sai do modo poético que ficaria redundado pois já há, além da prosa poética, os versos na maioria desses contos? 
   O que sente, o leitor, diante desses textos pré literários: faltaria densidade psicológica?

domingo, 5 de julho de 2015

Antologia - julho de 2015.

Ricardo Rutigliano Roque escreve desde 1991. Livros: Deságue – Em Santos, Catando Guaru – ensaio e conto (¹); Fortaleza da Barra Grande (*), Poesia à Rua, Caiçara em Haicai, Uma Chama Atlântica, Da Mata Atlântica ao Neruda e Diálogo Caiçara com Saturnino de Brito – poesia (**) (²); Mar Selvagem - romance (³); Liberto de Si - novela (4); editoria (5); antologia (6); oficina literária (7); performer (8) e produção (9).

* já filme – Fortaleza da Barra Grande;
** já musicadas – Epitáfio de Um Amor Filial, Chatice Sem Você, Reboca o Navio, Caiçara Poética, Brincante Charleaux, Desculpa e Sua Música.

1 - FACULT-2011 – classificado com nota sete;
2 - “Acervo dos Autores Santistas’ – ‘Biblioteca Mário Faria”, 2015;
3 - "Prêmio SESC de Literatura 2015" - classificado;
4 - “Como Escrever Um Livro” - em oficina atual;
5 - Caiçara Catadora – artesanal;
6 - “Cafezinho Médico Literário’, ‘Sociedade dos Poetas Vivos’, ‘Grêmio de Haicai Caminho das Águas” - grupos literários;
6’ - “Oficina de Literatura II' - 'Estação da Cidadania";
7 – “Escola Estadual Santa Cruz dos Navegantes” – Guarujá, 2013 - oficineiro;
8 – Saturnino de Brito – 150 anos de nascimento, em parceria com Instituto Histórico e Geográfico de Santos, em praça pública;
9 - Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande - pintura do monumento, em 1991, autor, coordenador e produtor - com 500 escoteiros, e chefe da Tropa II - "Grupo Escoteiro Morvan Dias Figueiredo".


* Fortaleza da Barra Grande -Roque- 
  https://www.youtube.com/watch?v=AQ4it4iXleE;
** Epitáfio de Um Amor Filial -Roque & Baraquet-
https://soundcloud.com/user10975440ricardoroque/epitafio-de-um-amor-filial;
Chatice Sem Você -Roque & Baraquet-
 https://soundcloud.com/user109475440ricardoroque/chatice-sem-voce;
Reboca o Navio -Roque & Baraquet-
 https://soundcloud.com/user109475440ricardoroque/reboca-o-navio;
Caiçara Poética -Roque & Baraquet-
 https://soundcloud.com/user109475440ricardoroque/caicara-poetica;
Brincante Charleaux -Roque & Baraquet-
 https://soundcloud.com/user109475440ricardoroque/brincante-charleaux;
Desculpa -Roque & Baraquet-
 https://soundcloud.com/user109475440ricardoroque/desculpa;
Sua Música -Roque & ...-
 https://soundcloud.com/user109475440ricardoroque/sua-musica.


Prólogo.

   Perceptível está o servir desse espaço de memória, até então virtual e da sala de aula, para acesso do leitor – o motivador, desse vestir de capa próprio do ato da criação do intuir e do imaginar, em postura literária da antologia, antes pré-literária da oficina.
   Idiossincrasias, entonações desproporcionais, reações exacerbadas, leitura ativa e passiva concomitantes à busca de sentidos, quentes e bem vindos, acontecem na oficina - "Como Escrever Um Livro", do coordenador Marcelo Ariel, até que simultâneos aconteçam à êxtase, agora nessas páginas, pela voz do personagem que fala por si.
   Em ousadia quase poética crê o oficinado.


1) Um Morador de Rua.
   
   Morador de Rua - Combustão da vida, que não para.
   Policial - Para no vácuo provocado, incombustível.
   - Essa é a ponte, sob a qual eu moro, com trilhos do trem elétrico.
   - Mais silenciosa e limpa, que da época à diesel?
  - Sim!
  - Como se sente? Invadido em sua casa?
   Silenciosa e sem a fumaça, com os dormentes fixos em concreto, com trem movido à eletricidade em velocidade constante com os semáforos abertos à passagem.
   - Sinto-me na rua de minha infância, na garupa de bicicleta.
   - Sobre qual roda você ia?
   - A detrás.
   - Qual roda você admira?
   - Aquela, do meio.
   - Por que não é a da frente?
   - Ela pega vento e fica entretida com o futuro, a detrás me remete ao passado, já a do meio à vida presente.
   - Você enxerga em qual desastre está metido?
   - Rompo o casulo, dessa sua crítica fundamentada.
   - Eclodo borboleta, então, com suas asas assertivas.
   Morador de Rua - Faça fotossíntese em folha, que me nutra enquanto lagarta.
   Policial - Que meu ego de avenida caiba em sua rua de criança.
   - Remo para singrar!
   - O que esse trem faria!?
   Tiro projetado, liberta o cano do revolver, risca o céu, desfaz a fumaça, desloca o ar, expõe ao sol, que queima, o morador de rua em nutrido diálogo com policial, enquanto olham a água, do canal 3 que reflete algo etéreo.

tecida em união
uma ponte de passarinhos –
Vega e Altair

2) Sentidos Desfraldados.

   Surpreende-se com sorriso nos lábios. Ao lembrar de seu amor, deixa-se ver enamorado, para o amigo, em água que reflete luz, com certo movimento, no canal 7.
   Amigo - A partilha acabou ou foi a tinta de sua caneta?
   Enamorado - Tampouco falta papel!
   - O que falta, então!?
   - Intuir nesse sentir, pra construir meu pensar!
   Em branco e azul chegam-lhe tais esboços soltos, mas de mãos dadas como papel e tinta.
   - Pinte, então.
   - Tão logo me desnude, depois de consolidar o pensar, pra sentir.
   - Desenhe tal universo, então, pra obter merecido enxergar.
   - Ao parecerem, esgarçados e fugidios, os meus pensamentos cerzidos, melhor alinhavados estarão, com abraços íntegros, sob lençol.
   Desfraldado imaginar de muitas cores, mesmo se desdenhado pelo sentir fascista, vitimado público, destratado por poderosos, ao sublimar o ego, ao emancipar umbigo, em imensurável querer cuidar, dos frutos imaturos.
   - Pororoca de um rio, chamado Atlântico, que murmure sob sua cama, em meio à festa, de vitoriosa paz, em seu lençol.
   - Enquanto isso o que é azul resplandece, rosa se levanta e cinza descansa.
   Olhar inspirador, o dela, aqui perceptível está, nesse enxergar generoso, em gozosa palavra grata por tal existir.
   - Flanar com crítica, transcende o pássaro seu ninho, ao bater asas.

suas belas asas pretas
como areias ondulam –
voa Pintassilgo

3) Um Urso Ferido.

   Dois ursos conversam, enquanto um se banha no rio, este que sorve a luz que perpassa objeto que plaina sobre sua água.
   - Estou ferido.
   - Quem o acertou?
   - O caçador de pele, esta, antes lambida por minha mãe.
   - Você ainda tem o necessário, calor dos pelos e da capa de gordura, pra se esconder na caverna.
   - Perderei tudo, se ele tiver, em arma, me alcançado.
   - O vermelho de seu sangue é, jorrado da ferida, sentença de morte.
   - O vermelho é vida, mas mostra o caminho por mim tomado. Minha vida é sua vida, em amizade. Se você verter uma gota, de seu corpo - em minha ferida.
   - Lamberei sua ferida, agora, pra afastar as moscas.
   - Faça, antes que o perdigueiro sinta tal cheiro.
   - A água do rio também ajudará. Enquanto ausente, estiver o caçador, na margem oposta.
   - Longe de desencontro - onde caçador está, sempre presente.
   O gelo do monólogo fluirá em água, se aquecido em diálogo ou se partirá aos pedaços projetados por outrem.
   - Sim, ao encontro!

rastro de sombra...
aparece à frente um caminho –
Lua ilumina

4) Nuvens.

   - Ooooh... !
   - Sim, é uma nuvem!
   - Ooooh... !
   - É, mudou de lugar!
   - Ooooh... !
   - Essa é branquinha!
   - Ooooh... !
   - Quer uma igual? Vou comprar um algodão doce.
   - Ooooh... ! Nhac...
   - É bom, né?
   - Ooooh... !
   - Essa é com água. Vou comprar água.
   - Ooooh... ! Glub...
   - Matou a sede, né? É a goiabada, com queijo - Romeu e Julieta, que dá sede, nessa nossa festa de Cosme e Damião.
   - O Saci-pererê também consegue se abaixar, como eu, pra beber água no rio?
   - Já teria se abaixado, mas pra pegar doce, se fosse em outra festa, de Halloween?
   - Só faria traquinagem se você não desse doce, na mãozinha dele como é dado na festa de Cosme e Damião!
   - Posso entrar na floresta, pra pedir doce e água, na casa do Saci?
   - Vá lá e suba a escada, de fora de tal casa, e lá em cima da casa escolha acertadamente a nuvem, pra desta beber água, até você ficar sem sede, mas não deixe rastro, nesse caminho de areia.
   - Subirei nessa árvore.
   Na água empoçada vê-se os contornos sombreados por algo que arremete ao céu.
   - Olá preta nuvem. Você tem água, pra matar a minha sede?
   Fuligem - Sou nuvem, oriunda da queima das folhas da cana de açúcar.
   Nuvem de chuva – Eu sim, agora que estou longe da plantação, elevada nesse céu azul, seco e quente.
   - Qual a velocidade, que vocês atingem?
   - Aquela, do vento que traz.
   - Como você é recebida, ao perceberem o pouso de sua fuligem?
   - Como a um moleque travesso, por repetidas vezes, a cada safra. Ela também é uma nuvem escura, com a minha velocidade, tal qual a do vento e, aparece, assim como eu, nas mais prováveis estações.
   - Chego antes do outono e, por isso, molho a roupa no varal, mas sou tratada como filha predileta, pra testemunho do céu azul, este que terá, até então, pairado sobre nós – duas nuvens escuras.
   - E você - nuvem branquinha, sempre vem aqui?
   Nuvem branquinha - Na ausência da nuvem pretinha sim.
   - Tal contraste é poético e, por isso, faça-se poesia ao comparecer, também, em dias carregados de chuva, minha branquinha.
   - Qual o ganho, minha pretinha, com tal prestigiosa presença, a minha, em sua orquestrada tempestade?
   - Poderá ver quanto os pássaros fogem, de minha chuva, coisa que você não faz – dar susto em passarinho.
   - Em solitária presença, essa minha, tantos pássaros alçam voo, mesmo debaixo de chuva.
   - Eu queria aprender a voar com sua leveza, branquinha, ao descarregar toda água, pra poder praticar tal voo de passarinho, com você.
   - Os passarinhos comem insetos e estão com fome, com a fumacinha que acaba com o mosquito do Dengue.
   - Mas, essa fumacinha branca é, contra mosquito, leve como você, porém voa, livre, como pássaro?
   - Inabilitado pássaro, de desengorduradas penas, que retém, por isso, a água de sua chuva, nuvem pretinha e isso pesa, ao tirar dela seu voar.
   - Então é você fumacinha que, ao penetrar nas asas do passarinho, oferece este aos gatos, em meio a água da pretinha?
   Fumacinha contra Dengue - Somos nuvens branquinhas, mas, com conteúdos e qualidades diferentes.

diversão passageira –
Pé d’água apaga
pegadas na areia


5) Uma Pedra.

   - Sou uma pedra, sobre você - simples papel.
   Folha de jornal - Sim, mas até ontem soberano, no mundo da palavra.
   Pedra - Não presuma o que não possa presumir.
   - O peixe é, hoje, por mim embrulhado.
   - Agora a palavra cede, a vez, ao pescado!?
   - Cada qual com seu qual.
   - Anuncio que vim, do paraíso geológico, ao mundo: por arrancamento.
   - Há repetição desse evento partido, que você reflete nos outros - chegada abrupta ao mundo.
   - Posso sublimar, assim, o que é passível de compreensão, em tais atos violentos, relevados por meus convivas.
   A pedra fundamental é a convivência íntima, atualmente em apartamento. O Cavalo de Tróia é a taxa de condomínio, porque tolhe o sentir - voar de alma da borboleta e brincadeira do palhaço, existente em cada um, agora ao sentir queimadura da água-viva. Pé do jogador de futebol fica parado, só deambula em areia, próximo de pingo de sorvete que caia, durante o verão.
   - História intui, merece atenção, onde um sonho flui, pulsa o coração.
   - Gestar e nascer, pensar e escrever, no tempo existente está recorrente.
   - Uma parição - criada semente, afetuosa e quente é mais louvação.
   - Caule dá sombra, tronco a sustenta, flor um aroma, e eu a molhar.
   - Come-se a polpa - a Semente de Jatobá germina aqui.
   - Romantizo o escrever, só pra me proteger, foi num útero aflorado que me senti bem amado.
   - Nutro assim a raiz e terra ao redor, caso o apresente à colheita - mais prazer que um amor.
   - Seiva nova que a nutra, é salgada, deixa doce, alagada.
   Em tal lâmina d’água, formada, cintilam cores trazidas pelos raios de sol que perpassam folhas de papel agrupadas, geometricamente.


6) Uma Festa.


   Festa - Sou o evento, efêmero, de seu aniversário.
   Aniversariante - Ausente estarei.
   - Serei uma festa, então, só para os convidados!? Com um grande vazio me sentirei.
  - Fico com vergonha, pois os olhares me constrangem se voltados pra mim.
   - Quando deu-se conta de sua existência, ficou com vergonha também?
   - Foi ao acordar, de sonâmbulo retorno, ao pé da cama de minha avó, apartado que fui do quarto – por uma noite.
   - Sentiu-se notado?
   - Sim.
   Estava ali, então, a festa na forma de abraços da sua avó, mas ele estava, ainda, meio dormido - por isso sem vergonha.
   - Saí de casa e do bonde olhei, após acenar pra minha avó, e vi pela janela a orla do mar, dali sentado, num banco voltado pra janela lateral oposta, daquele bonde fechado – o camarão. Eu era apenas o que via, lá fora: uma paisagem que corria.
   - Você estava só?
   - No caminho sim, da natação pra encontrar o Leiva - meu técnico, do Clube Saldanha, num bonde vazio, até que subiu alguém com mais que meus 14 anos, junto a outro com menos. Sentou-se junto a mim aquele maior, que lateralmente tocou-me o ombro, com seu cotovelo. Ali eu era o mar, que via e, como tal, fluí pra adiante. Fui tocado novamente. Mas aí, eu já era a areia, que em ventania aspergia pra diante. Mais forte foi o toque seguinte e ali eu já era a nuvem, daquele céu, que eu via, e assim flutuei, logo adiante, como se ao vento estivesse. Um novo empurrão e eu era a pedra do costão rochoso e assim e ali permaneci.
   - E?
   - Pra fora rolei. O motorneiro nem viu, esse meu périplo.
   - Com esse peso adquirido, você, afundou na piscina?
   - Antes eu estendi meu corpo, alongado naquele treino, assistido por meu “irmão mais velho” – o técnico.
   - Seu sorriso, de canoa, já navega, vó, em meu mar de esperança.
   - Depois de você o gene cora, lá diante de sua história, há doces que adora, filhos fazem sua dedicatória.
   - Linha escrita desde Santos, que vem de lá madura, deixa frutos além caule, verso dá a sua cura.
   - Fica longe de algoz, mora em um rio da casa, com livro pesca em nós e tira-nos da água rasa, esta que dá liberdade aos pés e deixa ver o leito, mas sem refletir o que paira no céu.

a vara enverga
desde o manguezal –
emerge o Robalo

7) Céu Espelha.

   Gavião - Você é minha testemunha.
   Poça d'água - Em que?
   - De minha performance, hoje, em voo.
   - Sim. Eu o refleti, mas agora estou vazia.
   - O passado me condena, se levado em conta voos havidos.
   - Sim.
   - Hoje poderia, refletir-me por mais tempo.
   - Você faria o que com tal imagem?
   - A filmaria, pra tê-la pra posteridade.
   - Sua imagem em mim era, até então, a de um pássaro caído do ninho.
   - Eu estou no encalço, com meu bico curvo, predador.
   - O ninho está em árvore, enquanto você está no chão gramado de experiências, mas sem asas, pra voar, suficientes.
   - Você espelha o meu céu, testemunha de minha habilidade e coragem.
   - Façamos uma aliança.
   - Qual?
   - Eu - poça dágua, refletirei o seu ninho, e formarei assim a sua casa.
   - Mas como eu habitarei essa minha nova casa, que me é oferecida?
   - Primeiro salvando-se do instinto de gavião, que o habita, ao constituir amizade com o sabiá-laranjeira.
   Como sublimar seu instinto!?
   - Você - sabiá-laranjeira, quer ser meu amigo? Ofereça seu conteúdo, a mim que habitará com você esse ninho. Mostre-me antes como voar com minhas asas, mas com suas qualidades.
   Sabiá-laranjeira - Eu serei você amanhã?
   - Como meu amigo, você – sabiá-laranjeira, estará com asas de gavião, bico entortado pra baixo e minhas qualidades de rapinador de ninhos.
   - Comerei os ovos, não eclodidos, de minha mãe?
   - Sim.
   - Torno-me seu conteúdo, gavião, mas se abrir mão de seu intento. Ofereço-me em sacrifício.
   - Amém. Nhac.


8) O Sabiá e o Garoto.

2015:
   Próximo ao museu Pelé há uma rua, a Gonçalves Dias, onde canta o sabiá, este audível mesmo se preso, estivesse, na caixa de sapateiro do Edson Arantes do Nascimento, em tal museu. Essa caixa de sapateiro seria, se percutida, ouvida daqui?
1800:
   - Como habituar, nesse trabalho, o homem induzido a escravizar-se, mesmo com salmora, tascada, intracicatrizes de açoites?
   - Ultrajar, mesmo com manifestado afeto, em sublime ação estará o homem e seu trabalho, se remontado ao tempo da escravidão, enaltecidos?
1915:
    - Investimento de acionista, que recebe emolumentos sem uma boa medida, inclusiva, a cada um dos trabalhadores!
   - Já não basta a invasão, cultural, do primeiro homem aqui chegado?
1999:
   - Aquela caixa que eu percuti, aqui ontem, mal repercutida está.
   - Aquele sabiá, aqui liberto, se fará ouvir, em estabelecido ambulatório médico de especialidades, na mesma rua?
   - Miiiickeeeeyyyyy? Esta paciente, por favor, você chama pra nós? – o médico à paciente já consultada.
   - Não escuta? Será que não veio?! – paciente ao médico.
   - Seu nome deve estar na agenda. – médico à enfermeira.
   - Só se estiver no banheiro! A sala de espera está cheia. Já dei uma olhada! – enfermeira ao médico.
   - Espera aí. É surdez do Mickey ou é o clipes que cobre o “L”! – médico.
   - Mickeeeely?!
   - Pronto. Sou eu.
   - Agi como o Pateta! Também, voz do Pato Donald, nesse barulhão!
   - Já vi de tudo, mas Mickey?! Mickely aqui é, na letra feia e sacolejar do caminhão em rua de pedra, uma roça sem chuva!
   - Você dá fé pública do ruído e audição, em reclamação? Sinto que os pingos caem da folha, mas é a força do vento que balança o chorão.
   - Pra não dizer que não falei, também, do pé de chumbo. Eu engraxo e batuco, denúncia do silêncio roubado, na caixa de sapateiro do Pelé, em seu museu, aqui ao lado.
Hoje:
   Obter cânhamo - semente de cannabis, para alimentar o passarinho engaiolado. Será melhor libertar o pássaro, até então, mantido junto!? Esse estará melhor, possuído ou solto, neste tardar, de seu cuidador, em supri-lo? Essa minha ficção - aventada, invade a sua realidade - vivida. Se o seu ensaio referencia o mensurável, já o meu é, praticamente, arreliação descabida. Fecho meu conto, presunçosamente adulto, para abrir meus ouvidos ao que há, em sua história, de força motriz que toca meu coração, desarvorado, procurando sua raiz.

Poeta sentido
dizer cantado -
choro chorado.

É ouvido da janela,
primeiro acorde maroto,
patente em som dedilhado.
Ágora volta, Garoto -
menino é acordado.

Tamanho pé direito,
finito pé esquerdo,
notas do cavaquinho
na XV, uma flauta,
caminhar é marinho.

Que o cais do Valongo dê,
ao despertar, um trapiche,
à cultura, do beirado,
em cujo choro só aja,
um Garoto mais sonhado.


9) Palavra Entrecada.

   Palmeira - Oásis, é o que você é, pra mim.
   Oásis - Você é, nesse oásis, minha palmeira.
   - À sombra de mim – palmeira, espero seu descanso sob sol forte.
   - Eu já quero que frutifique e traga os pássaros, em busca de suas sementes, agora.
   - Que o verde de minhas folhas o tranquilize.
   - Vejo ao longe a areia trazida, por vento forte.
   - No ponto mais alto de seu oásis ficarei, em fotossíntese. Vivo estarei pra contar, aos pássaros, o porquê do fim do nosso pequeno mundo.
   - Que a chuva transforme, no dia mais improvável do deserto, em lama essa areia, para que eu renasça em argila, moldando um muro que a proteja e a liberte, assim, do mal vento.
   Desnecessário é o medo, coletivo expresso em barbárie, que provoque sinergia coletiva.

Remo para migrar -
o que esse deserto faria!?

Ausência em mortificado pensar
mortificado por ausente palavra,
entrecou-se por uma lavra entrecada.

Escrito no modo da poesia,
acordo pro pressuposto discordo
com presença para convencimento
de pensamentos quaisquer que não façam
desbloquear fluidez criativa.

Entrecou-se por uma lavra entrecada -
ausência em mortificado pensar,
mortificada por ausente palavra.

Ao meio dia...
mistério na floresta -
presença de Trinado!

   O medo de cada pai é, impresso com suavidade em seu filho, sublimado, ao ser transformado em virtude.
após chuva fina
efêmera beleza -
crepúsculo de verão

10) Buraco na Casa da Palavra.

   Na mudança de postura troquei a moldura.
   Pavimentei nosso jardim desapareceu o jasmim.
   Esse novo caminhar faz-me repensar.
   Na quebra do asfalto, mangue enfraquece o salto.
   A culpa do muro é nenhuma no escuro.
   No perfume da flor alheia ouvi apenas canto de sereia.

   Tentou-se cavar um buraco negro, no mar daqui, com saques a metais nobres, trazidos do Rio da Prata, por navios fundeados em nosso povoado, protegidos por cascos forjados em cobre, pelo ferreiro Withal, casado com a filha de Adorno - octagenário dono de engenho de cana de açúcar, no século XVI. Obstada fluidez de pensamento, em singradas águas de nossos mares, como em avenida, metrificada por semáforos, em seu asfalto.
   Tentou-se cavar um buraco branco, na praia daqui, com lojas no emissário submarino, em meio à fluidez de pensamento, que se mantém ao caminhar-se em suas areias.
   Tenta-se obstar pensamentos forjados em tantas caminhadas, com lojas empilhadas sobre buraco descolorido, cavado na casa da palavra, esta afastada, assim, da dança de roda, por ausente fruto da cultura caiçara.
   Cerzir o esgarçado, tão importante quanto diagnosticá-lo com civilidade, no tecido social tratado.
   - Como proteger a palavra?

gira na mão
movido à correria -
catavento colorido

   Textos autorais, de Ricardo Rutigliano Roque, exercitados em oficina - "Como Escrever Um Livro", coordenada por Marcelo Ariel, módulo prosa, para sua antologia, em julho de 2015.

44. Um Morador de Rua.

   Tiro projetado, liberta o cano do revolver, risca o céu, desfaz a fumaça, desloca o ar que queima: foi escutado em diálogo de morador de rua com policial, enquanto olhavam a água do canal 3, que refletia algo etéreo.
   Morador de Rua - Combustão da vida, que não para.
   Policial - Para no vácuo provocado, incombustível.
   - Essa é a ponte, sob a qual eu moro, com trilhos do trem elétrico.
   - Mais silenciosa e limpa, que da época à diesel?
  - Sim!
  - Como se sente? Invadido em sua casa?
   Silenciosa e sem a fumaça, com os dormentes fixos em concreto, com trem movido à eletricidade em velocidade constante com os semáforos abertos à passagem.
   - Sinto-me na rua de minha infância, na garupa de bicicleta.
   - Sobre qual roda você ia?
   - A detrás.
   - Qual roda você admira?
   - Aquela, do meio.
   - Por que não é a da frente?
   - Ela pega vento e fica entretida com o futuro, a detrás me remete ao passado, já a do meio à vida presente.
   - Você enxerga em qual desastre está metido?
   - Rompo o casulo, dessa sua crítica fundamentada.
   - Eclodo borboleta, então, com suas asas assertivas.
   Morador de Rua - Faça fotossíntese em folha, que me nutra enquanto lagarta.
   Policial - Que meu ego de avenida caiba em sua rua de criança.
   - Remo para singrar!
   - O que esse trem faria!?

tecida em união
uma ponte de passarinhos –
Vega e Altair

43. Sentidos Desfraldados.

   Surpreende-se com sorriso nos lábios. Ao lembrar de seu amor, deixa-se ver enamorado, para o amigo, em água que reflete luz, com certo movimento, no canal 7.
   Amigo - A partilha acabou ou foi a tinta de sua caneta?
   Enamorado - Tampouco falta papel!
   - O que falta, então!?
   - Intuir nesse sentir, pra construir meu pensar!
   Em branco e azul chegam-lhe tais esboços soltos, mas de mãos dadas como papel e tinta.
   - Pinte, então.
   - Tão logo me desnude, depois de consolidar o pensar, pra sentir.
   - Desenhe tal universo, então, pra obter enxergar merecido.
   - Melhor alinhavar com abraços, meus pensamentos, depois de integrados sob o lençol, do que cerzi-los agora, se parecerem esgarçados e fugidios.
   Desfraldado imaginar de muitas cores, mesmo se desdenhado pelo sentir fascista, vitimado público, destratado por poderosos, ao sublimar o ego, ao emancipar umbigo, em imensurável querer cuidar, dos frutos imaturos.
   - Pororoca de um rio, chamado Atlântico, que murmure sob sua cama, em meio à festa, de vitoriosa paz, em seu lençol.
   - Enquanto isso o que é azul resplandece, rosa se levanta e cinza descansa.
   Olhar inspirador, o dela, aqui perceptível está, nesse enxergar generoso, em gozosa palavra grata por tal existir.
   - Flanar com crítica, transcende pássaro o seu ninho, ao bater asas.

suas belas asas pretas
como areias ondulam –
voa Pintassilgo

sábado, 4 de julho de 2015

42. Um Urso Ferido.

   Dois ursos conversam, enquanto um se banha no rio, este que sorve a luz de objeto que plaina sobre sua água.
   - Estou ferido.
   - Quem o acertou?
   - O caçador de pele - esta, que minha mãe lambeu.
   Você tem o calor dos pelos e da capa de gordura, para se esconder na caverna.
   Perderei tudo, se ele tiver, em arma, me alcançado.
   - O vermelho de seu sangue é, jorrado da ferida, sentença de morte.
   - Peço pra você lamber minha ferida, agora, pra cicatrizá-la.
   - Antes que o perdigueiro sinta tal cheiro?
   - O vermelho é vida, mas mostra o caminho por mim tomado. Minha vida é sua vida, em amizade. Se você verter uma gota, de seu corpo - em minha ferida.
   - Será compatível fazer tal infusão que torna seu o meu líquido.
   - Hemólise estará ausente, em necessária transfusão de seu bem vindo sangue. Seus glóbulos brancos em sinal de paz, brancos estarão, sem me fagocitar?
   - Sim, ao encontro!

rastro de sombra...

aparece à frente um caminho –
Lua ilumina

41. Nuvens.

   Fuligem - Sou nuvem, oriunda da queima, das folhas da cana de açúcar.
   Nuvem de chuva - Tão longe da plantação!?
   Elevada nesse céu azul, seco e quente.
   - Qual a velocidade, que você atinge?
   - Aquela do vento.
   - Como você é recebida, ao perceberem o pouso de sua fuligem?
   - Como a um moleque travesso, por repetidas vezes, à cada safra. Você também é uma nuvem escura, com a minha velocidade, tal qual do vento e, aparece, assim como eu nas mais prováveis estações.
   Chego antes do outono e, por isso, molho a roupa no varal, mas sou tratada como filha predileta, pra testemunho do céu azul, este que terá, até então, pairado sobre nós – duas nuvens escuras.
   - E você - nuvem branquinha, sempre vem aqui?
   - Em sua ausência, sim, nuvem pretinha.
   - Tal contraste é poético e, por isso, faça-se poesia ao comparecer, também, em dias carregados de chuva, minha branquinha.
   - Qual o ganho, minha pretinha, com tal prestigiosa presença, a minha, em sua orquestrada tempestade?

   - Poderá ver quanto os pássaros fogem, de minha chuva, coisa que você não faz – dar susto em passarinho.
   - Em solitária presença - só minha, tantos pássaros alçam voo, mesmo debaixo de chuva.
   - Eu queria aprender a voar com sua leveza, branquinha, ao descarregar toda água, pra poder praticar tal voo de passarinho, com você.

   - Os passarinhos que comem insetos estão com fome, com a fumacinha que acaba com o mosquito do Dengue.
   - Mas, essa fumacinha branca é, contra mosquito, leve como você, porém voa, livre, como pássaro?
   - Inabitada, ao desengordurar as penas, que retém, por isso, a água da chuva – que você descarrega, e isso pesa, tirando dela seu voo.
   - Então é você fumacinha, que ao penetrar nas asas do passarinho, oferece-lhe aos gatos, ao tirar a leveza pra voar?

   - Somos nuvens branquinhas, mas, com conteúdos e qualidades diferentes.
   Na água empoçada vê-se os contornos sombreados por algo que arremete ao céu.
diversão passageira –
Pé d’água apaga
pegadas na areia

sexta-feira, 3 de julho de 2015

40. Uma Pedra.

   Pedra - Sou uma pedra, sobre você - simples papel.

   Folha de jornal - Sim, mas até ontem soberano, no mundo da palavra.
   - Não presuma o que não possa presumir.
   - O peixe é, hoje, por mim embrulhado.
   - Agora a palavra cede, a vez, ao pescado!?
   - Cada qual com seu qual.
   - Anuncio que vim, do paraíso geológico, ao mundo: por arrancamento.
   - Há repetição desse evento partido, que você reflete nos outros - chegada abrupta ao mundo.
   - Posso sublimar, assim, o que é passível de compreensão, em tais atos violentos, relevados por meus convivas.

  A pedra fundamental é a convivência íntima, atualmente em apartamento. 
   O Cavalo de Tróia é a taxa de condomínio, porque tolhe o sentir - voar de alma da borboleta e brincadeira do palhaço, existente em cada um, agora de queimadura da água-viva.
   Pé de jogador do futebol, fica parado, só deambula em areia, próximo a pingo de sorvete que caia, durante o verão.
   - História intui, merece atenção, onde um sonho flui, pulsa o coração.
   - Gestar e nascer, pensar e escrever, no tempo existente está recorrente.
   - Uma parição - criada semente, afetuosa e quente é mais louvação.
   - Caule dá sombra, tronco a sustenta, flor um aroma, e eu a molhar.
   - Come-se a polpa - a Semente de Jatobá germina aqui.
   - Romantizo o escrever, só pra me proteger, foi num útero aflorado que me senti bem amado.
   - Nutro assim a raiz e terra ao redor, caso o apresente à colheita - mais prazer que um amor.
   - Seiva nova que a nutra, é salgada, deixa doce, alagada.
   Em tal lâmina d’água, formada, cintilam cores trazidas pelos raios de sol que perpassam folhas de papel agrupadas, geometricamente.