terça-feira, 26 de abril de 2016

Conto Entre Nuvens Um Passarinho Assustado.

   Em frente à praia, ao lado da reserva Juréia-Itatins, de costas pra Mata Atlântica, um filho mostra a seu pai, o que vê no céu. 
   - Ó, pai! 
   - Sim, é uma nuvem! 
   - Vê, ali! - É, mudou de lugar! 
   - Bonita é, também, aquela! 
   - É a branquinha! 
   - Parece que flutua! 
   - Quer uma igual? Vou comprar um algodão doce. 
   - Nhac... Hummm! 
   - É bom, né? 
   - Aquela é pretinha! 
   - É, ela tem água. Vou comprar água. 
   - Glub, glub... Hummmm! 
   - Matou a sede, né? É a goiabada, com queijo 
   - Romeu e Julieta, que dá sede, nessa nossa festa de Cosme e Damião. 
   - O Saci-pererê também consegue pai, se abaixar como eu, pra beber água, no rio? 
   - Já teria se abaixado, pra pegar doce, mas aqui ele recebe na mão, em festa de Cosme e Damião. Há uma festa, a de Halloween, onde seriam, caso não recebesse, permitidas as traquinagens! 
   - Pai. Posso ir à casa do Saci, lá na mata, que é pra pedir água e doce? 
   - Vai lá, filho, e suba a escada, de fora da casa, pra escolher a nuvem certa, pra desta beber, mas não deixe rastro, nesse caminho de areia. 
   - Subirei nessa árvore. Na água empoçada se vê o contorno, sombreado de algo, que paira no céu. 
   - Olá preta nuvem. Você tem água pra matar minha sede? 
   Fuligem - Sou nuvem, oriunda da queima das folhas da cana de açúcar. 
   Preta Nuvem - Eu tenho água, sim, antes de vir de lá, da plantação, eu ainda nesse céu azul, seco e quente. 
   - Qual a velocidade, que vocês atingem? 
   - Aquela, do vento que me traz. 
   - Como você é recebida, ao ser, percebida, fuligem? 
   - Como a um moleque, travesso, por repetidas vezes. Ela também, a preta nuvem, mas, eu apareço em duas safras por ano. 
   - Já eu chego mais no final do verão e, por isso, molho a roupa no varal, mas, mesmo assim sou tratada como filha predileta! 
   Céu azul - Sou testemunha disso, ao iluminar seus caminhos, nuvens escuras. 
   - E você - nuvem branquinha, sempre vem aqui? 
   Nuvem branquinha - Na ausência da preta nuvem, sim. 
   - Nosso contraste é poesia, minha branquinha, em dias carregados de chuva. 
   - Qual o ganho, preta nuvem, com minha prestigiosa presença, em sua orquestrada tempestade? 
   - Poderá ver quanto os pássaros fogem, de minha chuva, coisa que você não faz – dar susto em passarinho. 
   - Em solitária presença, essa minha, de fumaça contra a Dengue e, tantos são os pássaros que alçam voo, debaixo de sua chuva! 
   - Eu queria aprender a voar com sua leveza, branca nuvem, ao descarregar toda minha água, pra poder praticar um voo de passarinho. 
   - Os passarinhos estão com fome, com a fumaça que acaba com o mosquito da Dengue - seu alimento. 
   - Mas, essa fumacinha branca é, contra mosquito, leve como você, porém voa, livre, como pássaro? 
   Fumaça contra o Aedes - Inabilitado pássaro, de penas desengorduradas por mim, que faz reter, assim, a água da chuva caída da nuvem pretinha, e essa pesa, o que lhe tira o voar. 
   - Então é você fumaça que, ao penetrar nas asas do passarinho, oferece este aos gatos, em meio a água da pretinha? 
   Fumaça contra Aedes e nuvem branquinha - Somos nuvens branquinhas, mas, com conteúdos e qualidades diferentes. 

diversão passageira – 
Pé d’água apaga 
pegadas na areia 

Ao Paulo Rodrigues e Sonia Adarias - passarinhos, entre nuvens do "Grêmio de Haicai Caminho das Águas', e Galati, entre nuvens da 'Sociedade dos Poetas Vivos". 

#‎acervodosescritoressantistas‬

quarta-feira, 20 de abril de 2016

7ª. Nostalgia de Tarkovski (*) - Ode à Dilma.

A moleca no fim dos tempos -
da casa, das termas, da rua,
reflete dramaticidade
controvérsia apenas presente.

À luz de vela caminhante,
apaga trágico pulsar,
atravessa toda água
sem um simples balbuciar.

Abandono perpetrado,
aberta - rompida importa,
descamba ao falar ao vento,
acerta - atada ao sol.

* Exercício, do "Laboratório de Poética" - Marcelo Ariel, de 18 de abril de 2016 –
sensações advindas das palavras – sem citá-las: silêncio, Deus, humanidade, amor, corpo, mundo, mãe, pátria e saudade, na sessão cinematográfica de: “Nostalgia” de Tarkovski - que traduz a 7ª Sinfonia de Bethoven - https://www.youtube.com/watch?v=C6_kBg3_g10 .

domingo, 17 de abril de 2016

Em Perequê.

Perequê é essa praia
que visita o seu querer 
em luzes que iluminam 
meninice tão pesqueira. 

O Canal da Barra Grande 
lá da branca fortaleza- 
fica atrás de suas casas, 
pescador-mar, mulher-vento. 

A esmerada pesca havida 
é mostrada ao visitante - 
tanto sabor estimula 
seu comer ao petiscar. 

É como casa de praia 
quando você se assenta 
numa rede costurada - 
montada como anzol. 

Pescador é corajoso 
pesca no mar que é bravio, 
seus guiados dedos nós, 
encurvados, sal ao sol. 

Ricardo Rutigliano Roque - 

sábado, 16 de abril de 2016

Kafka Leitura.

Minha louça são meus dentes.
A língua a sua síndica. 
Céu da boca suas nuvens. 

Patente ação de carrasco, 
travestida em valorosa 
entrega do leite pátrio, 
nunca por 500 anos 
do povo que o ordenha. 
Dia-a-dia do patrão, 
este que derrama o leite 
confiado às suas mãos, 
pela nação usurpada. 

Garganta é a sua rua. 
Você uma paisagem. 
Voz o vento que açoita. 

Vê-se agora o bastidor, 
transformado em estrebaria, 
resgata cidadania, 
pela câmera à rua - 
à vista de todos, onde 
caminhante jornalista 
vocaciona o flagrante - 
postura de roubo tira 
o leite das mãos do povo. 

Nariz a sua marquise. 
Seu imposto à comida. 
Alegria sobremesa. 

Jogar ao chão - bel prazer, 
leite e povo derramados, 
ostensivamente são 
resgatados dignamente 
de um pasto só forçado - 
nação rica adubada, 
palco agora transformado 
em céu que existe em nós 
pra ser mais vivificado. 

Lágrimas à cachoeira. 
Cabelos uma floresta, 
numa kafka leitura. 

Ricardo Rutigliano Roque

- sobre a imagem: 
https://www.facebook.com/marco.santana.142/posts/1001926826528139?fref=nf&pnref=story ; 

- no blog: 
http://libertodesi.blogspot.com.br/2016/04/kafka-leitura.html?zx=77ab639ec4ce161 .

sexta-feira, 15 de abril de 2016

domingo, 10 de abril de 2016

Remar e Apedrejar.


Se o êxtase imobiliza, 
tanto mulher quanto pescador, 
isso faz superfície rasgares, 
movimentares o renascido 
tempo presente do paraíso - 
que se desfaz a todo instante, 
ao remares ou jogares pedra, 
sim, refletes azul infinito.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Atlântica Desembocadura, Rumo ao Barco Vizinho – 150 anos de Vicente de Carvalho.

Fica em digna postura -
pra sua alma irreprimível 
remar mais do que é seu barco. 

Há ousadia da maré 
endereçada aos ouvintes 
dentre eles está você. 

Pluvial água - percepção menino, 
nesse fluxo está ao adentrar 
no canal do estuário, longe perto - 
manobra exótica como a sua, 
veia para navegação do que há, 
ao passar pelo deck dos sentidos. 
Até umedece a aridez - 
areia em próxima praia palmilha. 

Disponíveis recortes mimos, 
remados pelo seu barqueiro 
insubmisso aos navegantes. 

Dá leitura aos cem barcos nus, 
pra presenciar oceano - 
sentir entregue ao olhar.

Menina em salobra mistura há, 
acalentado peixinho guarú, 
esta evocação de limite – mar, 
circunscrito nesse avizinhamento, 
mas, em maré vazante vai até 
se distanciar na conquista d’água 
oceânica encoberta em brumas, 
em vazantes e enchentes - você. 

Percepção há de haver que 
transcreva antologia imersa 
na ausência de alguns sabores. 

Já que você é homenagem, 
em alquimia à transformar 
versos naquela maresia. 

Quebrasse inércia, Vicente de Carvalho - 
de pé - fronte à dureza, jardim fomenta, 
ladeado em aconchego de uns traços 
benedictino-calixtos em suas águas, 
mar - por ambos assistido, é atlântica 
desembocadura – no céu, são lonjuras. 

Mediante minha leitura, 
que na rede eu sirvo a todos - 
aos pressupostos mais nadantes. 

Fechem essa minha janela 
à nossa não cumplicidade 
pra que a lua não a espie. 

O Dono do Destino.

Sou concebido criança
brinco na sombra da árvore
jogo bola na areia
olho a menina bonita
que me inspira um namoro.

Tanto verde é concebido
quanto azul eternizado.
Bolinha de gude cinza,
é obstada no morro.

O tiro de sal da espingarda
atinge a pele que queima
lá na molecada que sobe
o morro do Itararé –
inescapável obstáculo.

A água transformada,
ao gelo não retorna -
o ovo quando rompe
seu piar ecoa o céu.

Desapareço em meu sonho
me projeto morro abaixo
reapareço no céu
que só a trilha me leva
no pé que talhado é.

Esquadrinha o encontro -
eremita zig-zag,
o caminho não trilhado
rumo ao céu tão infinito.

O Cabide no Escuro.

À sombra de um cabide,
o chapéu por sobre ele,
na estatura da avó.
O medo não dominado
de um franzino cabideiro.

Nesse sono debruçado
em sonho noite adentro
meu sentir concretizado,
à janela que aberta,
que no mar sem fim liberta.

O saber que mais demora,
se abrupto olhar abrir,
no fechar de alma ao sonho -
pesadelo que domina,
chorar seco da ausência.

O tchau ainda não dado
beijar face não beijada,
abrir olho testemunho
do avô que não havia.
Cadê a franzina avó!?

sábado, 2 de abril de 2016

Atlântica Desembocadura.

Quebrasse inércia, Vicente de Carvalho - 
de pé - fronte à dureza, jardim fomentado,
ladeado em aconchego de uns traços 
benedictino-calixtos em suas águas 
do mar - por ambos assistido, em atlântica 
desembocadura – no céu, de tais posturas.

Rumo ao Barco Vizinho.

Fica em digna postura -
pra sua alma irreprimível
remar mais do que é seu barco.

Há ousadia da maré
endereçada aos ouvintes
dentre eles está você.

Disponíveis recortes mimos,
remados pelo seu barqueiro
insubmisso aos navegantes.

Dá leitura aos cem barcos nus,
pra presenciar oceano -
sentir entregue ao olhar.

Percepção há de haver que
transcreva antologia imersa
na ausência de alguns sabores.

Já que você é homenagem,
em alquimia à transformar
versos naquela maresia.

Mediante minha leitura,
que na rede eu sirvo a todos -
aos pressupostos mais nadantes.

Fechem essa minha janela
à nossa não cumplicidade 
para que a lua não a espie.