Em frente à praia, ao lado da reserva Juréia-Itatins, de costas pra Mata Atlântica, um filho mostra a seu pai, o que vê no céu.
- Ó, pai!
- Sim, é uma nuvem!
- Vê, ali! - É, mudou de lugar!
- Bonita é, também, aquela!
- É a branquinha!
- Parece que flutua!
- Quer uma igual? Vou comprar um algodão doce.
- Nhac... Hummm!
- É bom, né?
- Aquela é pretinha!
- É, ela tem água. Vou comprar água.
- Glub, glub... Hummmm!
- Matou a sede, né? É a goiabada, com queijo
- Romeu e Julieta, que dá sede, nessa nossa festa de Cosme e Damião.
- O Saci-pererê também consegue pai, se abaixar como eu, pra beber água, no rio?
- Já teria se abaixado, pra pegar doce, mas aqui ele recebe na mão, em festa de Cosme e Damião. Há uma festa, a de Halloween, onde seriam, caso não recebesse, permitidas as traquinagens!
- Pai. Posso ir à casa do Saci, lá na mata, que é pra pedir água e doce?
- Vai lá, filho, e suba a escada, de fora da casa, pra escolher a nuvem certa, pra desta beber, mas não deixe rastro, nesse caminho de areia.
- Subirei nessa árvore. Na água empoçada se vê o contorno, sombreado de algo, que paira no céu.
- Olá preta nuvem. Você tem água pra matar minha sede?
Fuligem - Sou nuvem, oriunda da queima das folhas da cana de açúcar.
Preta Nuvem - Eu tenho água, sim, antes de vir de lá, da plantação, eu ainda nesse céu azul, seco e quente.
- Qual a velocidade, que vocês atingem?
- Aquela, do vento que me traz.
- Como você é recebida, ao ser, percebida, fuligem?
- Como a um moleque, travesso, por repetidas vezes. Ela também, a preta nuvem, mas, eu apareço em duas safras por ano.
- Já eu chego mais no final do verão e, por isso, molho a roupa no varal, mas, mesmo assim sou tratada como filha predileta!
Céu azul - Sou testemunha disso, ao iluminar seus caminhos, nuvens escuras.
- E você - nuvem branquinha, sempre vem aqui?
Nuvem branquinha - Na ausência da preta nuvem, sim.
- Nosso contraste é poesia, minha branquinha, em dias carregados de chuva.
- Qual o ganho, preta nuvem, com minha prestigiosa presença, em sua orquestrada tempestade?
- Poderá ver quanto os pássaros fogem, de minha chuva, coisa que você não faz – dar susto em passarinho.
- Em solitária presença, essa minha, de fumaça contra a Dengue e, tantos são os pássaros que alçam voo, debaixo de sua chuva!
- Eu queria aprender a voar com sua leveza, branca nuvem, ao descarregar toda minha água, pra poder praticar um voo de passarinho.
- Os passarinhos estão com fome, com a fumaça que acaba com o mosquito da Dengue - seu alimento.
- Mas, essa fumacinha branca é, contra mosquito, leve como você, porém voa, livre, como pássaro?
Fumaça contra o Aedes - Inabilitado pássaro, de penas desengorduradas por mim, que faz reter, assim, a água da chuva caída da nuvem pretinha, e essa pesa, o que lhe tira o voar.
- Então é você fumaça que, ao penetrar nas asas do passarinho, oferece este aos gatos, em meio a água da pretinha?
Fumaça contra Aedes e nuvem branquinha - Somos nuvens branquinhas, mas, com conteúdos e qualidades diferentes.
diversão passageira –
Pé d’água apaga
pegadas na areia
Ao Paulo Rodrigues e Sonia Adarias - passarinhos, entre nuvens do "Grêmio de Haicai Caminho das Águas', e Galati, entre nuvens da 'Sociedade dos Poetas Vivos".
#acervodosescritoressantistas