sábado, 27 de junho de 2015

36. Carta Aberta ao Arrivista.

   Desnecessário é o medo, coletivo expresso em barbárie, que provoque bélica reação, em sinergia coletiva.
   O medo de cada pai é, impresso com suavidade em seu filho, sublimado, ao ser transformado em virtude.

após chuva fina
efêmera beleza -
crepúsculo de verão
   Ricardo – pai de três filhos e avô de dois netos, em reversa proposta.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

35. Palavra Entrecada.

   Palmeira (P) - Oásis, é o que você é, pra mim.
   (Oásis) - Você é, nesse oásis, minha palmeira.
   - À sombra de mim – palmeira, espero seu descanso sob sol forte.
   - Eu já quero que frutifique e traga os pássaros, em busca de suas sementes, agora.
   - Que o verde de minhas folhas o tranquilize.
   - Vejo ao longe a areia trazida, por vento forte.
   - No ponto mais alto de seu oásis ficarei, em fotossíntese. Vivo estarei pra contar, aos pássaros, o porquê do fim do nosso pequeno mundo.
   - Que a chuva transforme, no dia mais improvável do deserto, em lama essa areia, para que eu renasça em argila, moldando um muro que a proteja e a liberte, assim, do mal vento.
   Desnecessário é o medo, coletivo expresso em barbárie, que provoque sinergia coletiva.

Remo para migrar -
o que esse deserto faria!?

Ausência em mortificado pensar
mortificado por ausente palavra,
entrecou-se por uma lavra entrecada.

Escrito no modo da poesia,
acordo pro pressuposto discordo
com presença para convencimento
de pensamentos quaisquer que não façam
desbloquear fluidez criativa.

Entrecou-se por uma lavra entrecada -
ausência em mortificado pensar,
mortificada por ausente palavra.

Ao meio dia...
mistério na floresta -
presença de Trinado!

   O medo de cada pai é, impresso com suavidade em seu filho, sublimado, ao ser transformado em virtude.

após chuva fina
efêmera beleza -
crepúsculo de verão

quinta-feira, 25 de junho de 2015

34. São Cristóvão no Carnaval.

   - Olha só essa janela, que dá pro jardim tão iluminado pela luz da lua cheia.
   - Vejo o calor que da família emana.
   - Darmos a volta e pela porta da cozinha entrar, onde encontrarei a fogoza donzela da casa.
   - Tem ingresso, seu para o municipal, mas terá ela a fantasia?
   - Sim, pra que eu a dispa com meus olhos, no breu de meus pensamentos.
   - Essa serpentina é o fio da meada, de nossa volta, em deleite.
   - O confete é o que salpicará, multicores, o meu caminho.
   - A fluidez de uma chuva levará o pensamento que dê pouco sentido ao meu querer.
   - Sonho acordado ao som de acordes, das marchinhas, em harmonia, no ritmo frenético de meus pensamentos.
   - Cuidado com aquele cão, que ladre em meu caminhar.
   - Estarei em carruagem, libertária, que me ajude a reverenciar São Cristóvão.

33. Ser Palmeira em Oásis.

(Palmeira) - Oásis, é o que você é, pra mim.
(Oásis) - Você é, nesse oásis, minha palmeira.
(P) - À sombra de mim – palmeira, espero seu descanso sob sol forte.
(O) – Eu já quero que frutifique e traga os pássaros, em busca de suas sementes, agora.
(P) – Que o verde de minhas folhas o tranquilize.
(O) – Vejo ao longe a areia trazida, por vento forte.
(P) – No ponto mais alto de seu oásis ficarei, em fotossíntese. Vivo estarei pra contar, aos pássaros, o porquê do fim do nosso pequeno mundo.
(O) – Que a chuva transforme, no dia mais improvável do deserto, em lama essa areia, para que eu renasça em argila, moldando um muro que a proteja e a liberte, assim, do mal vento.

Prosopopéía de Ricardo Rutigliano Roque.

terça-feira, 23 de junho de 2015

32. Buraco na Casa da Palavra.

   Na mudança de postura troquei a moldura.
   Pavimentei nosso jardim desapareceu o jasmim.

   Esse novo caminhar faz-me repensar.
   Na quebra do asfalto, mangue enfraquece o salto.
   A culpa do muro é nenhuma no escuro.
   No perfume da flor alheia ouvi apenas canto de sereia.

   Tentou-se cavar um buraco negro, no mar daqui, com saques a metais nobres, trazidos do Rio da Prata, por navios fundeados em nosso povoado, protegidos por cascos forjados em cobre, pelo ferreiro Withal, casado com a filha de Adorno - octagenário dono de engenho de cana de açúcar, no século XVI. Obstada fluidez de pensamento, em singradas águas de nossos mares, como em avenida, metrificada por semáforos, em seu asfalto.
   Tentou-se cavar um buraco branco, na praia daqui, com lojas no emissário submarino, em meio à fluidez de pensamento, que se mantém ao caminhar-se em suas areias.
   Tenta-se obstar pensamentos forjados em tantas caminhadas, com lojas empilhadas sobre buraco descolorido, cavado na casa da palavra, esta afastada, assim, da dança de roda, por ausente fruto da cultura caiçara.
   - Como proteger a palavra?

gira na mão
movido à correria -
catavento colorido

Questão encaminhada, por esse autor do exercício transcrito, à mesa de debatedores - Adri Aleixo e Eduardo Lacerda, mediada por Marcelo Ariel, alicerçada nessa prosa poética, de Ricardo Rutigliano Roque - cumprindo exercício da oficina "Como Escrever Um Livro", (baseado em texto do Pessanha -Instabilidade Perpétua"- publicado no portal "Cronópios" - http://cronopios.com.br/site/prosa.asp?id=1815), e antecipadamente apresentada em roda de conversa, iniciada com frequência de Helle Alves, Ademir Demarchi, Toledo e Wélcio de Toledo, Erre Amaral, Pedro Tostes, Adri Aleixo, Marcelo Ariel, Márcia Correa, Marina Ruivo, Germano Quaresma, Luiz Soares de Lima, Tatiana Justel, Eduardo Lacerda e Marcelo Ignácio, expositores, e ouvintes - como eu, com direito à palavra, com alguns autores literários, na "2ª Festa do Livro", em 20 de junho de 2015.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Exercícios: Mito, Neologismos e Ponto de Ônibus.

Mito:

   - Bentinho (*) era um típico representante da tradicional elite.
   - Do grupo que marca sua história como bem entende?
   - Daquele que ressalta ou omite o que lhe convém.
   - Com a mesma arbitrariedade?
   - É. Com o mesmo elitismo com que seus pares escreviam a história do Brasil.
   - Ou comandavam o país?
   - Mas o Escobar – seu amigo desde a infância, quando morreu denotava ausência de bens.
   - Isso desfaz o mito de desigualdade pequeno, no Brasil.
   - Por causa do que?
   - Dos inventários levantados, que só rastreavam os de posse.
  - Na Europa, nos séculos passados, a desigualdade era de 80% nos bens detidos pelos mais afortunados. E nos Estados Unidos de 70%.
   - E no Brasil?
   - 59%.
   - Esse é um mito, por total ausência de inventário dos miseráveis e escravos. 
   - Machado de Assis traz essa realidade. 
   - Assim como Balzac na mesma época na Europa - além da econometria dessa estatística. 
   - Sim. No primeiro capítulo ele, narrador de seu próprio protagonismo, se diz bacharel em direito. 
   - E depois? 
   - No segundo diz das posses, de sua família, como fazenda e escravos que, vendidos, tornaram-se imóveis no centro do Rio de Janeiro, geradores de renda em forma de aluguel.

* “O Segredo de Escobar’ - amigo de Bentinho, em Dom Casmurro - Machado de Assis, esse ‘...um típico representante da tradicional elite..., marca sua história como bem entende, ressaltando ou omitindo o que lhe convém, com a mesma arbitrariedade e o mesmo elitismo com que seus pares escreviam a história do Brasil ou comandavam o país.” – André Dutra Boucinhas, Questões histórico-literárias, Piauí-junho.2015, pág. 60.

Neologismos:

O xurum.

   - Há um som melancólico: xurum.
   - E um choro de curumim.
   - Umedece meus olhos.


O gralabá.

   - Ânsia de vômito de minha mãe, em minha gestação: gralabá.
   - Você a ouvia?
   - Não, mas a imagino!

O crinche.

   - Pise de leve.
   - Evite as beiradas.
   - A peroba rosa estala: crinche?
   - Não. São as juntas no piso corrido de madeira.


Ponto de Ônibus.

   - Depois do que você falou!
   - Não será depois do que você pensou?!
   - Baixe sua arma e vai cuidar de sua vida.
   - Mas eu não tenho arma.
   - Sua língua.
   - Mas, não será sua falta de linguagem, que o faz linguarejar?
   - Você está pisando duro.
   - Desde o crinche das beiradas da peroba rosa do meu chão de casa que eu piso com cuidado, É o chão que me acompanha.
   - Esta conversa me dá ânsia.
   - O gralabá do que antecede o vômito e seu desdobramento sonoro acompanha todo parto difícil: esse contido em suas reticências.
   - Eu não choro!
   - O xurum do curumim que me acompanha é o que está a me umedecer os olhos.

31. Mito.

   - Bentinho (*) era um típico representante da tradicional elite.
   - Do grupo que marca sua história como bem entende?
   - Daquele que ressalta ou omite o que lhe convém.
   - Com a mesma arbitrariedade?
   - É. Com o mesmo elitismo com que seus pares escreviam a história do Brasil.
   - Ou comandavam o país?
   - Mas o Escobar – seu amigo desde a infância, quando morreu denotava ausência de bens.
   - Isso desfaz o mito de desigualdade pequeno, no Brasil.
   - Por causa do que?
   - Dos inventários levantados, que só rastreavam os de posse.
   - Na Europa, nos séculos passados, a desigualdade era de 80% nos bens detidos pelos mais afortunados. E nos Estados Unidos de 70%.
   - E no Brasil?
   - 59%.
   - Esse é um mito, por total ausência de inventário dos miseráveis e escravos.
   - Machado de Assis traz essa realidade.
   - Assim como Balzac na mesma época na Europa - além da econometria dessa estatística.
   - Sim. No primeiro capítulo ele, narrador de seu próprio protagonismo, se diz bacharel em direito.
   - E depois?
   - No segundo diz das posses, de sua família, como fazenda e escravos que, vendidos, tornaram-se imóveis no centro do Rio de Janeiro, geradores de renda em forma de aluguel.

*  “O Segredo de Escobar’ - amigo de Bentinho, em Dom Casmurro - Machado de Assis, esse ‘...um típico representante da tradicional elite..., marca sua história como bem entende, ressaltando ou omitindo o que lhe convém, com a mesma arbitrariedade e o mesmo elitismo com que seus pares escreviam a história do Brasil ou comandavam o país.” – André Dutra Boucinhas, Questões histórico-literárias, Piauí-junho.2015, pág. 60.

sábado, 13 de junho de 2015

30. Meu Olhar e Seu Ouvir.

   - Eu gosto de seus olhos. Ela - Mulher.
   - E eu de seus cabelos. Ele - Homem.
   - O seu cheiro me embebeda. Mulher.
   - O seu olhar me enebria. Homem.
   - Uma música, no ar, me enleva. M
   - Seu cruzar de pernas me seduz. H
   - Seus dedos me mandam mensagens. M
   - Suas curvas me entorpecem. H
   - A relva nos é convidativa. M
   - Nosso deitar se torna relaxante. H
   - Sua língua me faz terna submissa. M
   - Seus lábios são carnudos. H
   - Uma imagem me penetra. M
   - Sua constância me assegura. H
   - Seu afeto me torna plena. M
   - Nossos filhos me alegram, mas seu olhar me guia. H
   - O seu ouvir me contempla. M
   - Sua partilha me embevece. H 
   - Alviçareira é nossa ideia comungada. M
   - Seu sorriso me fortalece a alma. H
   - Espivitada é a vida diária e espirituosa sua risada noturna. M
   - Sua leitura à capela, dedilha minha alma. H
   - Dê-me um beijo. M
   - Dar-te-ei meu tempo adoçado por meu humor. H

quarta-feira, 10 de junho de 2015

29. Convivência.

   A pedra fundamental está, atualmente, na convivência íntima, em apartamento. 
   O Cavalo de Tróia é a taxa de condomínio, porque tolhe o sentir - voar de alma da borboleta e brincadeira do palhaço, existente em cada um, agora de queimadura da água-viva.
   Pé de jogador do futebol só deambula em areia, distante de um pingo de sorvete que caia, durante o verão.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

28. Clube do Choro.

Poeta sentida
dizer cantado -
choro chorado.

É ouvido da janela,
primeiro acorde maroto,
patente em som dedilhado.
Ágora volta, Garoto -
menino é acordado.

Tamanho pé direito,
finito pé esquerdo,
notas do cavaquinho
na XV, uma flauta,
caminhar é marinho.

Que o cais do Valongo dê,
ao despertar, um trapiche,
à cultura, do beirado,
em cujo choro só aja,
um Garoto mais sonhado.