- Vejo , na água a sarjeta, meu rosto de olhos bem abertos.
- Sente proximidade com o líquido amniótico, seguro e quente?
- A segurança se esvai.
- ... Mas, e o aconchego de sua mãe?
- Sinto que a água é fria.
- ... Mas, e o bueiro escuro e quente?
- Tal água vem e, de longe dali, apenas passa.
- Sinto, como ela, o útero que recebe a vida.
- Então é acolhedor esse sentir?
- Sim, mas o bueiro prende enquanto o canal do parto liberta.
- Caia no canal que atingirá o horizonte.
- Estava na vertical e agora estou deitado nessa água parada.
- O rio me leva, a terra das margens me recebe e os peixes me acompanham.
- Essa água corre mais que meu corpo que permanece, flutua.
- A correnteza não forma ondas.
- As pedras criam um fluxo diverso.
- O musgo denota o estar preso.
- Seu reflexo, o ser.
- O cheiro é do homem.
- O tato é da mulher.
- Sua frieza é do nascer no mundo.
- A cachoeira existe para o vidente.
- O cego pressente o abismo.
- A ponte dá dimensão do ego.
- O fundo do leito a profundidade.
- Cada estrela é um sentimento partilhado, no tocar de sua luz à superfície.
- Antes disso há uma emoção de cada um.